Macedo
de Cavaleiros é uma terra antiga. O seu nome primitivo
relaciona-se com o de uma terra farta na produção
de maçãs. Com efeito, masaedo, maçaedo,
macedo, são termos arcaicos que querem dizer maçãs.
E os documentos medievais que se lhe referem são inequívocas
a este respeito: vilar de masaedo, aldeya de maçaedo
e quinta de Macedo. Há uma lenda em que dois cavaleiros
armados de maças teriam aparecido numa batalha entre
mouros e cristãos e teriam, com as suas armas, decidido
a sorte da lide, assistida por el-rei que exclamava “Maça,
Macedo, Maça, Macedo!”. Esta lenda tem o seu
fundamento no facto de que um fidalgo macedense, Martim Gonçalves
de Macedo, salvou a vida de D.João I na Batalha de
Aljubarrota ao matar um castelhano, Álvaro de Sandoval,
que por pouco não tirou a vida ao rei. D.João
I ficou reconhecido ao acto valoroso do cavaleiro Martim Gonçalves
de Macedo e, desde então, século XIV, a terra
passou a chamar-se Macedo dos Cavaleiros. Martim Gonçalves
teve a distinção de ser sepultado no Mosteiro
da Batalha, perto do túmulo do rei. O paço ou
torre de honra da família de Martim Gonçalves
de Macedo deveria ser cerca do local onde hoje é a
casa conhecida como “do Serra dos cavalos” à
entrada do Prado de Cavaleiros e este bairro deve o seu nome
ao designativo desses fidalgos. Tal como a rua da Fonte do
Paço, contígua à da Fonte do Cipreste
e cuja mãe de água está ainda hoje sob
o seu pavimento, perpetua no seu nome aquele recuado significado.
Os Borges, comendatários do Mosteiro de Refoios, foram
administradores da terra e a tal facto está associado
o de que o morgadio instituído em Castelãos
e que no século XVII era detido por Pedro Borges da
Costa, vereador da câmara da cidade de Bragança
e aí aclamador de D.João IV, tenha sido vinculado
pelo então Reitor de Macedo dos Cavaleiros, o Padre
José de Oliveira da Costa, à capela de Jesus,
Maria e José, na Igreja de S.Pedro, e aqui tivesse
o seu solar, conhecido pelo Solar do Morgado Oliveira (construído
em 1674). No século seguinte, D.Ana de Sá Sarmento,
da família daqueles morgados, casa com o Dr. José
da Costa Macedo e faz construir o seu solar, hoje conhecido
como a Casa Falcão. No núcleo antigo da terra
erguia-se o velho solar dos Morais Sarmento, já muito
arruinado, do qual hoje resta apenas um portal em granito.
Uma filha desta casa casou com Manuel de Vasconcelos, senhor
de grande fortuna e construtor de um outro magnífico
solar com capela a Santo António, hoje destruído.
Manuel de Vasconcelos viria a ser presidente da câmara
de Macedo de Cavaleiros.
A importância de Macedo de Cavaleiros era muito grande
e durante o século XVIII a sua população
foi aumentando a ponto de em dezenas de anos ter igualado
e ultrapassado a das vilas que existiam à sua volta.
Agricolamente rica, cruzamento de vias de circulação
de pessoas e facilmente acolhendo grupos migratórios
que a demandavam, a terra foi vendo crescer a sua notoriedade.
Já D.João V a tinha feito um Reguengo da Casa
de Bragança, em 1722, prerrogativa que a tinha distinguido
para benefício dos seus habitantes e que D.Maria I
confirmou em 1788. Com o liberalismo no século XIX
a sua ascenção mantém-se de forma que,
quando surge a nova divisão administrativa de 1853,
é com alegria e com toda a justiça que é
acolhido o facto de que passa a ser cabeça de um concelho
feito às custas dos velhos concelhos de Chacim e dos
Cortiços, essencialmente. A partir de então,
um surto de construção e expansão urbana
faz com que rapidamente se imponha no distrito ao nível
de outras terras já vilas há séculos.
Há obras de construção de novos edifícios
e de reconstrução e ampliação
de outros (a igreja foi reconstruída em 1861).
O rei D.Luiz faz de Macedo de Cavaleiros uma vila em 1863.
A vinda para cá de uma grande comunidade com origem
em Vimioso e Carção, a ligação
ao resto do país por caminho de ferro (1905), a aterrissagem
de um avião pilotado por Sarmento de Beires em 1922
(o primeiro que sobrevoou e que aterrou no distrito de Bragança),
a edificação de um hospital e criação
da Santa Casa da Misericórdia (definitivamente em actividade
desde 1929), a situação central no cruzamento
das principais rodovias que o Estado Novo aqui fez construir
bem como a instalação do núcleo de distribuição
regional de energia eléctrica da CHENOP - Companhia
Hidro-Eléctrica do Norte de Portugal, em 1958, fizeram
com que nunca parasse o progresso impulsionado com a reforma
administrativa do século XIX.
Para que tal progresso não parasse foi decisivo,
a partir dos anos sessenta, o dinheiro dos emigrantes na Europa
e na América. Trabalhando nesses países, para
cá mandavam as suas poupanças e aqui investiram
na construção das suas casas e na aquisição
de património. Fundou-se a Cooperativa Agrícola,
unidades de transformação de produtos, de produção
de plásticos e de cogumelos. Apareceram numerosos serviços
tais como agências bancárias. Houve uma modernização
do comércio. O regresso forçado das famílias
de conterrâneos que estavam no Ultramar com a descolonização,
em 1975-76, fez aumentar significativamente não só
o número de habitantes mas também a diversificação
social da terra. Novas exigências a que correspondeu
a necessidade, na década de oitenta, de dotar Macedo
de Cavaleiros com novas ruas e bairros, nova rede de distribuição
de água, edificar novos estabelecimentos escolares
para o ensino secundário, um novo Hospital Distrital
e, pela primeira vez, de um estabelecimento de Ensino Superior,
o Instituto Jean Piaget. Com o fim do século XX a vila
passou a ser oficialmente a cidade que é hoje. A freguesia
de Macedo de Cavaleiros abrange ainda as povoações
de Travanca e de Nogueirinha.
Autor: Dr Manuel Cardoso

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